quarta-feira, 27 de maio de 2015

OS TRÊS AMORES de Castro Alves

A analise foi foi elaborado pelos alunos Diego Barros, Tatiana Blumenthal e Willian de Sousa do Curso de Licenciatura em Letras - Português/Inglês, na UNIP, Campus Vergueiro, período noturno para a disciplina Literatura Brasileira - Poesia ministrada pela Prof.ª Martha Maldonado e coordenado pela Prof.ª e Dr.ª Joana Ormundo.



TRÊS FORMAS DE AMOR
De CASTRO ALVES

Análise do poema OS TRÊS AMORES
Diego Barros, Tatiana Blumenthal e Willian Sousa


Resumo: Este trabalho/ensaio tem por objetivo analisar o poema OS TRÊS AMORES de Antônio de Castro Alves por meio de uma análise estrutural e interna, bem como os seus possíveis significados dentro do contexto histórico e movimento literário da época no qual estava inserido, escrito e publicado.
Summary: This work/assay has as objective the analysis of the poem OS TRÊS AMORES by Antônio de Castro Alves with an internal and structural view, as well as its possible meanings within the historical context and literary movement from the time, which it was inserted, written and published.


INTRODUÇÃO
Antônio Frederico de Castro Alves, popularmente conhecido apenas por Castro Alves, nasceu na vila de Nossa Senhora da Conceição de "Curralinho", hoje chamada de Castro Alves, no estado da Bahia, no dia 14 de março de 1847.
Castro Alves pertence ao condoreirismo, que é a terceira fase do romantismo. O movimento tem o social como temática principal. Os autores da época questionavam a escravidão e apoiavam a proclamação da república. Alves é o principal poeta condoreiro, razão essa por ser conhecido como o "Poeta dos Escravos". Fagundes Varela, Tobias Barreto e Luís Delfino também fazem parte do movimento. 
Rapaz belo e esbeltico, com voz possante, cheio de maneiras que deixavam as pessoas impressionadas, impondo-se à admiração dos homens e roubando amores das mulheres, fez-nos sentir em seus versos então os primeiros romances.
O poema que conhecemos hoje como O Navio Negreiro teve sua apresentação pública em 7 de setembro de 1868 pelo nome de Tragédia no mar.
Porém em São Paulo, na tarde de 11 de novembro, resolveu caçar na várzea do Brás e feriu o pé com um tiro. Daí resultou longa enfermidade, cirurgias, chegando ao Rio de Janeiro no começo de 1869, para salvar-se, mas com o sofrimento de uma amputação.
Seguiu para Curralinho em fevereiro de 1870 para melhorar a tuberculose, doença que acometia muitas pessoas na época. Voltou para Salvador em setembro e lançou Espumas flutuantes, última obra publicada em vida, pois veio a falecer um ano depois, no dia 06 de Julho de 1871, aos 24 anos.
Infelizmente, Alves morreu antes que os escravos fossem libertados, a Lei Áurea foi assinada apenas em 1888.
O Livro
Foto da Capa da primeira edição.
Espumas flutuantes (1870) é o resultado de 53 poemas reunidos e resumem todos os traços inovadores de Castro Alves. O nome do livro não comum passa uma forte idéia de transitoriedade: abatido sente que sua vida se esvai assim como as espumas no mar agitado, frente a proximidade da morte. A coletânea inclui poemas exímios, como: O livro e a AméricaAhasverus e o gênioMocidade e morteAdormecidaOde ao dois de julho, etc. A obra foi tomada pela crítica com enorme admiração e respeito, legitimando Castro Alves no cenário literário no Brasil.
O prologo


No "Prólogo", Castro Alves responde a própria pergunta "o que são na verdade estes meus cantos?":
"Como as espumas, que nascem do mar e do céu, da vaga e do vento, eles são filhos da musa - este sopro do alto; do coração - este pélado da alma. E como as espumas são, às vezes, a flora sombria da tempestade, eles por vezes rebentaram ao estalar fatídico do látego da desgraça(…)"
Os versos surgem como exímios exemplares do Romantismo, carregados de figuras de linguagem e em tom muitas vezes pomposo.
Relembra de amores, consumados ou não, desferindo o fervor que o fim da paixão com a atriz Eugênia Câmara lhe causou - uma "Immensis orbibus anguis", que: "Assim bebeu-te a vida, a mocidade e a crença / Não boca de mulher… mas de fatal serpente!…"
A seguir, apresentaremos o poema.
Os Três Amores
I
Minh’alma é como a fronte sonhadora
Do louco bardo, que Ferrara chora...
Sou Tasso!... a primavera de teus risos
De minha vida as solidões enflora...
Longe de ti eu bebo os teus perfumes,
Sigo na terra de teu passo os lumes...
- Tu és Eleonora...

II
Meu coração desmaia pensativo,
Cismando em tua rosa predileta.
Sou teu pálido amante vaporoso,
Sou teu Romeu... teu lânguido poeta!...
Sonho-te às vezes virgem... seminua...
Roubo-te um casto beijo à luz da lua...
-  E tu és Julieta...

III
Na volúpia das noites andaluzas
O sangue ardente em minhas veias rola...
Sou D. Juan!... Donzelas amorosas,
Vós conheceis-me os trenos na viola!
Sobre o leito do amor teu seio brilha
Eu morro, se desfaço-te a mantilha
Tu és - Júlia, a Espanhola!...

Recife, Setembro de 1866

ANALISE ESTRUTURAL
Rimas
O esquema das rimas repete-se em ABABDDB nas duas últimas estrofes, com exceção da primeira, observe:

Minh’alma é como a fronte sonhadora
Do louco bardo, que Ferrara chora...
Sou Tasso!... a primavera de teus risos
De minha vida as solidões enflora...
Longe de ti eu bebo os teus perfumes,
Sigo na terra de teu passo os lumes...
- Tu és Eleonora... 
A
B
C
A
D
D
B


Considerando a ordem que seguem as rimas no poema, podemos confundir-nos e achar que Castro Alves não seguiu uma métrica padronizada, se analisarmos apenas uma estrofe, pois esta apresenta rimas mistas. Porém ao analisar o poema por inteiro notamos que o esquema rítmico está em completa harmonia, conectando através da sonoridade uma estrofe com a outra. Ainda que as rimas A, B, C e D não sejam as mesmas em cada estrofe, a repetição da ordem em que as variações aparecem foi planejada com maestria.

Analisando o esquema rítmico, e as rimas do poema, percebemos que o autor tráz a cada septilha algumas rimas ricas e algumas pobres: podemos observar que na primeira sétima as rimas B são palavras das classes de verbo e substantivo, assim como as D. Já na segunda estrofe as rimas B são adjetivos e substantivos, enquanto as D são respectivamente adjetivo e substantivo.
Sílabas poéticas, escanção e ritmo.
Ao analisar as sílabas poéticas é possível notar que as sílabas fortes repetem-se de forma a constituir o ritmo do poema, auxiliando sua sonoridade e dando a ele um tom que remete ou relembra o balanço dos amores e paixões por ele representado. Observamos também fuga do padrão quando se trata do local onde estão entonadas as sílabas mais fortes ou acentuadas.

I
Mi- NHA ͡͡  AL- ma͡͡ é- co- mo- a- FRON- te- so- nha- DO (ra)
 1           2              3        4    5     6      7      8    9    10  11
Do- LOU- co- BAR- do,- que- fer- Ra- ra- CHO (ra)... 
  1      2       3     4       5      6      7      8    9    10      
SOU- TAS- so- a- pri- ma- VE- ra- de- teus- RI (sos)
    1      2       3   4   5     6      7    8    9    10    11
De- mi- nha- VI- da ͡͡͡  as- so- li- DÕES- en- FLO (ra)
 1    2      3      4       5      6    7     8          9    10
LON- ge- de- TI- eu- BE- bo ͡͡͡  os- teus- per- FU (mes)
  1       2    3     4    5    6       7    8     9    10    11
Si- go- na- TER- ra- de- teu- PAS- so ͡͡͡  os- LU (mes)
 1   2    3      4      5    6    7      8       9    10   
E- tu- ÉS- E- le- o- NO (ra)
 1  2    3   4  5   6   7

II
MEU- co- ra- ÇÃO- des- MA- ia- pen- sa- TI (vo)
  1       2     3      4        5    6      7    8     9    10
Cis- MAN- do ͡͡͡  em- tua- RO- sa- pre- di- LE (ta)
  1      2          3          4      5     6     7    8   9
SOU- teu- PÁ- li- do ͡͡͡  a- MAN- te- va- po- RO (so)
   1      2      3   4        5         6      7    8   9    10
Sou- TEU- Ro- MEU- teu- LÂN- gui- do- po- E (ta)
  1        2      3      4        5     6        7      8    9  10
SO- nho- te ͡͡͡  às- ve- zes- VIR- gem- se- mi- NUA
 1      2        3       4     5     6         7      8     9    10
ROU- bo- te ͡͡͡  um- CAS- to- BEI- jo- à- luz- da- LUA
   1       2       3         4       5     6    7    8   9   10    11
E- tu- ÉS- Ju- li- E (ta)
1    2    3    4  5   6

III                                
Na- vo- LÚ- pia- das- NOI- tes- an- da- LU (zas)
 1     2     3    4       5      6      7     8    9    10
O- SAN- gue͡͡͡  ar- DEN- te͡͡͡ em- mi- nhas- VEI- as- RO (la)
 1     2          3         4         5       6      7      8      9   10
SOU- D.- Ju- AN- Don- ZE- las- a- mo- RO (sas)
  1      2     3     4       5     6      7    8    9    10
VÓS- co- nhe- CEIS- me͡͡͡  os- TRE- nos- na- vi- O (la)
  1       2    3         4          5        6       7     8    9  10
So- bre͡͡͡ o- LEI- to- do͡͡͡  a- MOR- teu- SEI- o- BRI (lha)
 1        2      3    4      5       6       7       8    9   10
Eu- MOR- ro- se- des- FA- ço- te͡͡͡  a- man- TI (lha)
 1      2      3    4     5      6    7      8     9      10
Tu- ÉS- JÚ- li- a ͡͡  a- Es- pa- NHO (la)
 1     2     3   4     5      6     7      8

O padrão, e o mais comum, é que versos seguidos por oito sílabas métricas possuam entonação distribuída da seguinte maneira: E.R. 8(4-8) ou E.R. 8(2-6-8), porém podemos observar no último verso da terceira estrofe, que isto não se segue, afinal ele tem suas entonações mais fortes distribuídas em E.R. 8(2-3-8). O mesmo ocorre com o verso eneassílabo, que se contrapondo ao padrão, possui suas entonações em E.R. 9(2-5-9). Assim seguiu o poema, não deixando de fora os decassílabos, quando podemos observar o contrário no segundo verso da primeira estrofe, nos versos um, três, quatro e cinco da segunda estrofe, e em todos – exceto o último, que possui apenas oito sílabas métricas – os versos da última estrofe. Por último observamos que os hendecassílabos também fogem ao padrão, estando distribuídos como E.R. 11(2-7-11); E.R. 11(1-2-7-11); E.R. 11(1-4-6-11) e E.R. 11(1-4-6-11).

ANALISE INTERNA
Há pesquisadores que especulam o significado deste poema como exemplificação ou alusão ao amor nas três fases do romantismo. Cada estrofe em concordância com cada fase respectivamente. Entretanto, se pensarmos e observarmos o poema como todo e suas referências, tal afirmação torna-se dúbia pois, o amor no romantismo de fato foi exagerado e idealizado, mas apenas na segunda fase conhecida como ultrarromantismo. A terceira estrofe também não diz respeito ao fim do romantismo, pois esse conhecido como condoreirismo, tinha como temática as questões sociais. 
Se levarmos em consideração quando Castro Alves escreveu o poema (Recife, 1866), pode-se especular mais acertadamente que o poeta tenha o escrito para sua amada Eugenia Câmara, mesmo ano que ambos se conheceram. No poema, Castro cita três diferentes situações em que se vê com sua amada. Faz referência a três importantes obras conhecidas na literatura mundial para descrever os momentos com a atriz. Obras essas: Torquato Tarso (Opera), Romeu e Julieta e O Trapaceiro de Servilha e o convidado de Pedra. Observe:
I
Minh’alma é como a fronte sonhadora
Do louco bardo, que Ferrara chora...
Sou Tasso!... a primavera de teus risos
De minha vida as solidões enflora...
Longe de ti eu bebo os teus perfumes,
Sigo na terra de teu passo os lumes...
- Tu és Eleonora...

A primeira estrofe é referência a Torquato Tasso Opera de Gaetano Donizetti, se passa na Itália e é baseado na vida do grande poeta Torquato Tasso, sendo Ferrara a cidade onde a história principal acontece. O romance entre Tasso e Eleonora é cheio de desencontros, escândalos e, ao fim, a perda da amada.
II
Meu coração desmaia pensativo,
Cismando em tua rosa predileta.
Sou teu pálido amante vaporoso,
Sou teu Romeu... teu lânguido poeta!...
Sonho-te às vezes virgem... seminua...
Roubo-te um casto beijo à luz da lua...
-  E tu és Julieta...

Nesta estrofe, a referência é à obra mundialmente famosa Romeu e Julieta de William Shakespeare. Também se passa na Itália, Verona, onde o amor impossível e proibido entre dois jovens de famílias rivais, uma paixão intensa então termina de forma trágica. Este trecho se comunica perfeitamente com o ultrarromantismo, evidenciado pelos os vocábulos “desmaia”, “pálido”, “lânguido” e “à luz da lua”, termos de escapismo, sentimentalismo e temática noturna.

III
Na volúpia das noites andaluzas
O sangue ardente em minhas veias rola...
Sou D. Juan!... Donzelas amorosas,
Vós conheceis-me os trenos na viola!
Sobre o leito do amor teu seio brilha
Eu morro, se desfaço-te a mantilha
Tu és - Júlia, a Espanhola!...

A última estrofe é uma menção a obra O Trapaceio de Sevilha e o convidado de pedra de Tirso de Molina, onde o personagem principal é Don Juan: jovem atraente que seduz Julia, uma moça de família nobre da Espanha e assassina seu pai. Trata se de um amor sedutor, carnal e amaldiçoado, também com um fim dramático.
Chegamos à conclusão que Os Três Amores insinua que Castro Alves e Eugênia não tiveram um romance dos melhores pelas citações dos três personagens literários. Em todas as três obras, o amor tem um final trágico, dramático e clássico. Neste romance há de tudo: paixão, escândalos, desencontros, barreiras e ao fim a perda da amada ou maldição do amante, mas que ambos viveram intensamente cada momento.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como já dito anteriormente, Castro Alves era um poeta do condoreirismo, terceira fase do romantismo. A preocupação com a métrica começava a se esvair, e características pelo qual passaram inúmeros movimentos literários neste processo de fugir às regras podem ser observadas no poema Os Três Amores, onde a métrica é seguida quase à risca, porém escorrega em alguns momentos, fugindo do padrão.
Tais “escapes” podem ser observados, por exemplo, na contagem das sílabas poéticas, que não seguem sempre o mesmo número.
Apesar de alguns pesquisadores relacionarem o poema às três fases do Romantismo, uma análise mais atenta juntamente com a consideração do contexto histórico, nos possibilitou concluir mais acertadamente que Castro Alves o dedicou à sua amada Eugenia Câmara, comparando o amor de ambos epicamente com os grandes amores clássicos e literários de outros autores mundialmente conhecidos.
São por estes motivos que tornam o talento e maestria de Castro Alves, o “Poeta dos escravos”, indubitáveis.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOLDSTEIN, Norma Seltzer. Versos, sons, ritmos. 14ª Ed. rev e atualizada. São Paulo: Ática, 2006.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 43ª Ed. São Paulo. Cultrix, 2003.

ALVES, Castro. Espumas Flutuantes. [S.I]. Acervo Digital. [2000?]. Disponível em: <http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/espumas_flutuantes.pdf >. Acesso em: 27 de Maio. 2015

ROMEU e Julieta. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. [S.l.]: Wikimedia Foundation, última atualização: 22 de maio. 2015. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Romeu_e_Julieta> . Acesso em: 27 de Maio, 2015.

ESPUMAS Flutuantes. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. [S.l.]: Wikimedia Foundation, última atualização: 19 de março. 2014. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Espumas_Flutuantes>. Acesso em: 27 de Maio, 2015.

TORQUATO Tasso (Opera). In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. [S.l.]: Wikimedia Foundation, última atualização: 05 de março. 2015. Disponível em: < http://it.wikipedia.org/wiki/Torquato_Tasso_%28opera%29>. Acesso em: 27 de Maio, 2015.

DON Juan. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. [S.l.]: Wikimedia Foundation, última atualização: 15 de fevereiro. 2015. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Don_Juan>. Acesso em: 27 de Maio, 2015.

CASTRO Alves. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. [S.l.]: Wikimedia Foundation, última atualização: 04 de maio. 2015. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Castro_Alves >. Acesso em: 27 de Maio, 2015.